O Fado

Não sei se alguém já disse isto (já estou como o Paulo Bento que citou Nietzsche sem saber) mas depois do minuto 67 do jogo de hoje contra a Albânia, tenho a dizer que "as equipas boas ganham, as más têm azar".

Acredite que não digo isto com ligeireza ou com aquele sorrisinho tipo Mutley das Wacky Races, mas apenas com o objectivo de remar contra o regresso das "vitórias morais" e dos "azares".

A imprensa, de um modo geral, e o José Nunes de um modo particular (sim que eu mudo sempre a estação para a 3 às 8:50 para vos ouvir mais o Mariño e a Cláudia - um abraço para eles) vem apregoando que, com Queirós, a selecção joga à bola, que tem um futebol espectacular, que joga quem merece, etc... Quem ouviu os comentários pós-Dinamarca e pós-Suécia quase diria que a derrota em Alvalade foi melhor do que o empate em Estocolmo. Que a selecção joga muito bem, mas "teve azar".

E o "azar" continua, aos 75 minutos de jogo a jogar contra uma Albânia com 10 e um central adaptado. É cá uma falta de sorte! Justo justo era que o Guarda-Redes decidisse ao minuto 85 que passaria a jogar pela selecção do Kosovo e abandonasse o campo.

80 minutos. Estamos cheios de "azar". Um tal de Berisha pensou que estava a jogar contra o Scolari e quase marcou .

Mas agora houve uma diagonal muito bonita. Eu diria mais: é realmente preciso muita arte para, com estes jogadores e contra uma Albânia com 10, estar empatado aos 82 minutos.

Agora uma trivela! Ok, estou satisfeito, já temos pontuação na componente artística.

Este é o paradigma de, certamente, mais uma vitória moral na imprensa de amanhã. Jogámos bem, mas tivemos "azar".

(Relatador: "Nuno Gomes - magnífico, inteligente" - continuamos a masturbar o nosso ego)

Desculpe lá o tom irónico da missiva mas fiquei saturado com este delírio colectivo que é a análise do percurso da selecção até ao momento. Com a distorção revisionista do trabalho do Scolari. E, sobretudo, com o regresso do tempo das vitórias morais.

(Nota final: o relatador da TVI diz que a selecção deu 55 minutos de avanço. Cá para mim, deu 90)

Votos que a selecção dê a volta a isto - podem contar com o meu apoio

Cumprimentos,

Ricardo Carvalho